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OFICINA DE GRAFITE AMPLIOU REPERTÓRIO DE PARTICIPANTES E COLORIU A COMUNIDADE

Reportagem de Marcelo Passos/Comunicação Somos Comunidade




Não foi surpresa que uma das oficinas de maior engajamento e interatividade do Projeto Somos Comunidade tenha sido a de grafite. Talvez porque a dupla de oficineiros nasceu e foi criada no Morro das Pedras e seja bastante conhecida na comunidade pelo ativismo cultural e engajamento social nas boas causas promovidas no Aglomerado. Raison e Mari Flô são artistas visuais experientes e grafiteiros por excelência.


Ambos têm trabalhos variados, espalhados por outras vilas e bairros da capital. Enquanto Mari Flô também transita pela criação de figurinos e participa como instrutora da Oficina de Figurino, Raison há muitos anos, é professor de artes em escolas municipais e instrutor em projetos sociais, além de atuar como curador da galeria de arte da Associação Artística e Cultura História em Construção, no Morro das Pedras.


A Oficina de Grafite contou com 12 participantes. O objetivo era criar links com variadas formas de arte através de técnicas para amplificar a produção e o contato dos alunos com a criação em materiais diversos. As oito videoaulas, via whatsapp e mentorias em encontros pelo Google Meet, trataram de temas como a linguagem do grafite e as intervenções urbanas, criação de personagens, teoria das cores, suas propostas e combinações, além da aplicação prática do aprendizado com a criação de obras a partir dos contextos de histórias locais do Morro das Pedras, seu folclore e misticismos.


Os materiais de trabalho prático foram entregues aos participantes logo na primeira semana. Cada aluno recebeu um kit composto de blocos de desenho e pintura com folhas de diferentes gramaturas, canetas, pincéis e tinta. A produção individual foi inspirada em cenas e pessoas do cotidiano do Morro das Pedras. O resultado, ao longo da oficina, nos meses de maio e junho, ficou bem além do esperado e os trabalhos fazem parte agora do acervo de apresentação do

Festival Somos Comunidade.


As atividades em torno do grafite contribuíram decisivamente para a própria identidade estética do projeto. Mari Flô aproveitou a conexão com a oficina de figurino e propôs a adoção de estampas a partir do grafite com signos do Morro das Pedras, retratando pessoas, cenas e lugares da comunidade. O Grupo de Dança Urbana adulto da Escola de Artes da Unimed/BH vestiu as roupas especialmente produzidas para a sua apresentação. Já o oficineiro Raison levou o grafite para a composição de painéis com o material produzido pela Oficina de Fotografia. As imagens estão agora espalhadas por muros e paredes do Morro das Pedras, marcando o legado criativo do Projeto Somos Comunidade.


Kits fizeram a diferença no processo de criação


Para Mari Flô a experiência da Oficina de Grafite superou suas expectativas, sobretudo, porque os participantes tiveram condições de mostrar suas criações, mesmo à distância e no isolamento social da pandemia. Isso provou que o encontro dos jovens com o aprendizado proposto era, de fato, uma necessidade em uma região tão fragilizada e destituída de oportunidades. “É muito forte saber que meia dúzia de lápis e um caderno podem mudar todo o olhar e o senso crítico de quem realmente deseja encontrar uma saída”, ela completa.


Para o servente Vitor da Cruz Franco, de 20 anos, a experiência da oficina foi muito rica, pois permitiu a ele agregar novos conhecimentos no campo das artes visuais. Vítor já desenhava antes, mas, com a oficina, aprendeu mais sobre as técnicas de aplicação e justaposição das cores, fundamentais à prática do grafite. “Foi uma experiência muito diferente. Eu costumava trabalhar em preto e branco. Mas, com o grafite, eu tive que pensar primeiro nas cores e nas figuras para colocar nos muros. Fiz dois grafites no muro bem grande de um local conhecido como Preguinhos: o rosto de uma mulher negra idosa e a figura de um cachorro”.


Nascido e criado na comunidade, Vítor sabe que ainda tem muito a aprender, mas, está orgulhoso da sua criação. Para ele, o grafite “era uma coisa que a gente passava, olhava e admirava. Mas, agora, a gente pode fazer. Pretendo continuar, sem dúvida nenhuma”.

Raison destaca que uma das razões para a oficina ter despertado tanto envolvimento dos participantes foi o apoio recebido com os kits de trabalho, que impulsionaram a turma a efetivamente participar e criar. Ele lembra que, no passado não tão distante, as coisas eram muito mais difíceis no Morro, os índices de violência eram muito altos e a juventude enfrentava a falta de perspectivas. “Não tinha muito lazer, muito menos oficinas artísticas e culturais ofertadas para a juventude, oficinas essas que oferecem outros caminhos. No entanto, muita coisa mudou de lá para cá, graças a projetos como o Somos Comunidade, que tem uma grande importância para o Morro das Pedras”.

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